
::Wosien fala sobre a simbologia do circulo::
...eu gostaria de dizer alguma coisa a respeito do símbolo do círculo. É do conhecimento dos mestres: O círculo representa uma imagem do espaço cósmico. Todos nós temos a origem neste círculo. Cada ponto no círculo é um ponto crucial. Cada um está a igual distância do centro. Ao dançarmos no sentido dos ponteiros do relógio ( o relógio nos mostra o percurso do nascer ao pôr do sol), nós dançamos em direção, em direção a luz. Nossa mão direita é a mão que recebe, com as palmas para cima; nossa mão esquerda é a mão que doa, as palmas para baixo. Esta mão passa adiante a luz e nos assegura, ao mesmo tempo, do nosso elo com o passado que em latim é “religio”. Dessa forma, fazemos uma corrente que mostra a origem sagrada.
Surgindo do silêncio da harmonização, uma idéia nasceu do meu coração: a idéia da dança como uma caminhada para dentro do silêncio e de uma meditação em movimento.
...no percurso da maestria da dança, eu coloco a compreensão básica de que a dança, como uma das mais antigas expressões de arte, é um caminho esotérico. O dançarino tem que fazer um trabalho sobre seu instrumento, seu próprio corpo. Isto quer dizer ele está trabalhando sobre a base pelo interior da própria imagem de Deus, conforme a frase esotérica: “tal como em cima assim (também) embaixo”. Isto significa que ele está trabalhando sobre o fundamento do autoconhecimento como verdadeira imagem de Deus.
::Friedel Kloke fala sobre o mestre Wosien::
Wosien ensinava filosofia, astronomia, mitologia e numerologia. Em Munique, ele ensinava balé clássico e dança barroca, renascentista e folclórica na Universidade de Marburg.
No meu encontro com Wosien, o que causou o maior em relação à minha vida e à minha profissão foi que, para ele, a religião e a dança eram uma coisa só. Antes de conhecê-lo, elas eram sempre duas coisas distintas para mim. Até então, a dança nada tinha a ver com a religião. Eu dançava desde os 5 anos e tinha aprendido toda a técnica. Mas ele nos fez ver que havia algo mais, além da técnica.
Foi Bernhard quem deu uma dimensão muito especial a dança. Ele uniu as duas coisas. A dança folclórica e música, que é horizontal, à dança clássica e música, que é vertical. É uma cruz. Foi ele a primeira pessoa a fazer isto. Isto é realmente dele.
Outra coisa muito impressionante sobre Wosien era a maneira dele ensinar. Ele ensinava balé como nenhum outro professor. Nenhum! Por exemplo: cada dia da semana os exercícios fora da barra eram feitos de acordo com os 7 planetas. Às segundas feiras, dia da lua, o treinamento era adágio, às terças feiras, dia de marte, ele fazia passos enérgicos e coordenação; às quartas feiras, dia de mercúrio, passos miúdos e rápidos; às quintas feiras, dia de júpiter eram pulos altos e largos; às sextas feiras, dias de fraia que corresponde a Vênus, deusa do amor, ele fazia todos os exercícios dos dias anteriores e “pas de deux” ( danças de casal no bale clássico)no espaço livre, danças na diagonal. Sábado dia de saturno, ele reunia tudo. Era uma coreografia inteira. Domingo dia de celebração o brilho do sol!
Wosien um mestre singular
Bernhard Wosien tinha um carisma incrível. Mesmo tendo sofrido um derrame ao final da vida, e não podia dançar muito, mesmo assim ele manteve seu carisma. Ele tinha uma energia impressionante; quando estava entre nós, era uma imensa alegria: sua presença e animação eram contagiantes. eu também quero lhes passar a idéia de que ele era um homem estruturado somente quando trabalhava com balé clássico. Mas não com as danças circulares.
Ele mudava as danças todas as horas, porque, para ele, não era a posição dos pés, a técnica e estas coisas que importavam, era sim a dança em si mesma. Se você pedisse a ele para refazer os passos outra vez, do mesmo jeito que ele tinha ensinando antes, ele se irritava, porque era como negar que ele fosse um artista. Um artista nunca pinta o mesmo quadro duas vezes! Ele criava uma dança e ela ia embora, perdia-se. Então, nós o imprensávamos: “o que foi isto? o que foi que você fez? eu anotava e perguntava: “ o que isto significa? E ele explicava. Quando criava uma dança com música clássica, ele nunca dizia “eu fiz esta dança; ele simplesmente falava: “esta dança aconteceu em mim”.
Foi na verdade um pura alegria, uma celebração e um grande privilégio ter podido vivenciar isso e ter trabalhado com ele.
fonte: Jornal Roda de Luz – janeiro/fevereiro/março de 2004.